terça-feira, 27 de maio de 2008

Entre a França e o mundo.



Ela devia ter uns 6 anos e estava numa ansiedade inexplicável. Sorria, batia palma, olhava pela janelinha: "Francia mamá?"

De repente ela me viu na poltrona da janela do outro lado, na mesma fila, e sorriu. Eu sorri de volta e ela ficou tímida, mas gostou da brincadeira de se esconder, aparecer e sorrir pra mim de novo. E a gente ficou nessa brincadeira uns 15 minutos antes de finalmente aterrissar em Paris. Ela ia pra Disneylândia e já quase não podia esperar. Eu também não, eu finalmente estava ali! Vendo a excitação dela eu esqueci o medo, esqueci a saudade e me senti que nem criança.

Paris não me assustou, nem me encantou de cara. Eu tinha ouvido falar sempre tão bem da cidade que esperava uma bomba de deslumbramento quando finalmente chegasse aí. Mas não, Paris me encantou aos pouquinhos, e tanto que deu vontade de ficar em Paris toujour!

Acho que deslumbramento de verdade, de arrebatar o coração é seguir o conselho dos queridos que me acolheram em Paris e fazer o primeiro passeio na cidade descendo na estação do Trocaderó pra daí ter a primeira visão da torre. Você desce no metrô numa rua que beira uma praça, olha pra todos os lados à procura da torre - e não vê! Aí você dá dois passo e de repente, ela surge, ali, na sua frente, enorme, linda! Nesse momento eu finalmente entendi o que é estar em Paris.

De frente pra torre, resolvi que tinha chegado o momento de perder o meu medo de altura (e não sei porque a musiquinha do raul que diz "eu perdi o meu medo da chuva" ficava tocando na minha cabeça) - com valor eu encarei a super fila e fui, até o terceiro andar, subi os 324 metros e lá de cima, Paris parece tão pequena e tão linda, tão tchuca!

Bom, a coisa chata da viagem toda é que a cidade estava insuportavelmente cheia - tinha fila pra tudo, você se batia nas pessoas em qualquer lugar e o Louvre parecia uma feira. Por falar no Louvre, não gostei muito dele. Tem toda a fama, tem um acervo enorme, tem coisas bem importantes, mas tá tudo tão junto que não dá pra observar nada com calma, não dá pra apreciar a obra em sua individualidade, sei lá. E além do mais, tinha tanto turista interessado em tirar foto e nada mais que as coisas perdiam a graça - a tal "aura" da obra de arte sumia completamente e tudo fica parecendo uma coisa qualquer. Eu gostei mesmo do D'Orsay, muito, mas antes de acabar minha visita tive que sair porque acharam uma bolsa qualquer perdida em alguma sala e enfim - bolsa perdida em Paris (como em qualquer cidade grande da Europa) é bomba. É uma paranóica louca, que pra gente não faz muito sentido, a minha primeira reação foi ficar chateada porque não ia dar tempo voltar, depois foi dar risada de tudo.

Bom, eu saí andando mesmo e fazendo tudo o que dava na telha. Estive nos arcos do triunfo, vi os túmulos de Rousseau e Voltaire, entrei na prisão revolucionária, assisti uma missa na Notre Dame e caminhei pelos jardins de Maria Antonieta. Passei por várias placas de homenagem àqueles que morreram pela pátria, ou que engrandeceram o seu espírito e me senti quase honrada de estar ali, no mesmo lugar. Comi algumas das melhores coisas da minha vida em Paris - o croissant, por excelência, é inexplicável. Atravessei várias vezes algumas pontes sobre o Sena e vi o sol brilhando bem forte acima dele antes de se pôr. Viajando sozinha, tive a sorte de ter muito boa companhia e de encontrar pessoinhas simpáticas que me indicavam caminhos, sorriam e faziam os dias mais bonitos. Em Paris, os postais mais bonitos do mundo são vendidos em cada esquina e de repente, você cruza essa esquina e ele está lá, se mostrando pra você.

Eu voltei de Paris com gosto de quero mais. E eu quero mesmo, de verdade. Eu nunca me senti tão bem em um lugar e juro que não esperava que isso fosse me acontecer em Paris. Peguei o avião de volta me perguntando se Alba, a menininha que ia pra EuroDisney teria se encantado tanto quanto eu. Ao ver minhas fotos com cara de 12 anos, começo a desconfiar que não...

* Ah, a frase da foto é de Charles de Gaule.

5 comentários:

Caio Andrade disse...

Que lindo, amor!!! Em suas palavras, Paris parece ainda mais atraente e encantadora. Fico feliz e orgulhoso por você.
Acho que todo seu encantamento fez com que, nas fotos, você saisse com cara de criança. Quase mágica...

Eu mesma disse...

eu quero mamae, eu quero!

Larissa Paim disse...

"me senti que nem criança"? Isso é fácil pra vc, ñ? ;)

Fico feliz por essa sua viagem, por tudo ter acontecido melhor do que você esperava e agradeço por compartilhar essa sua experiência - deu quase contade de ir a Paris um dia...

Anônimo disse...

que bonitinho, viajando sozinha hem filhota.
beijo.

NELSÃO disse...

Valeu "Ningo"!!!
Que beleza. Que orgulho sinto de você. Você descreve a sua viagem de forma que me remete à sensação de também estar em cada cantou ou esquina de Paris.
Muito bom.
Te amo...um beijo.
Papis.