Conto da noite em que o céu caiu

"Que o céu não caia sobre suas cabeças". Uma frase com mil significações na minha cabeça de criança hiperativa. Imaginava o céu com todas as estrelas, nuvens, cores, gases, planetas brilhantes e astros reluzentes vindo abaixo numa profusão de coisas maravilhosas. Sentia o cheiro da chuva, do mar, dos gases lunares e quase podia tocar a superfície do sol. "Que o céu não caia sobre suas cabeças". Dizia isso - o meu avô - e se ia, pra mais uma viagem longa que o apartava de mim.
Era só sentir saudade e eu olhava pro céu. os astros, as cores, os cheiros - tudo vindo abaixo. A saudade se ia. Ficavam os sonhos, o gosto do algodão-doce (que, naquela época, eu imaginava que fosse mesmo um pedacinho do céu) que ele comprava quando estava por perto.
Um dia, sem mais pra quê, ele me chamou perto (tinha chegado há tão pouco tempo!). Queria dizer mais uma vez aquela frase tantas vezes repetida, por tantas horas esperada em sua ausência. "Que o céu não caia em sua cabeça." E se foi. Dessa vez pra não mais voltar.

Eu nunca mais olhei pro céu.